Nossa História

Nossa História

7 de Dezembro de 1974

Num texto do Manuel Couto, sobre o início da Comunidade, lemos: “Enfim, o grande dia chegou! Lobito, 7 de dezembro de 1974. Um grande abraço junto ao mar, marcou o primeiro dia da pequena comunidade”. O mesmo texto continua: “Armamos nossa tenda em Nova Lisboa, graças ao D. Américo. Os primeiros meses de vida foram de muita criatividade, muitos projetos, muito movimento. Os jovens nos deram o nome: Comunidade Shalom. O Movimento nos uniu na mesma finalidade. Maria Carazaieta nos unificou na pedagogia. A confusão que então se vivia, nos pedia doutrina segura. O pluralismo nos fez reafirmar a comunhão com a hierarquia. Os desafios e esperanças de um país que nasce nos pediam fidelidade à realidade. A pouco e pouco nos identificávamos como comunidade. Os desafios eram enormes, mas as esperanças também. O Movimento crescia e se projetava em todas as dioceses, se abria para a realidade dos africanos”.

Iniciavam o projeto o Luís Carlos que “já tinha uma longa história de luta, merecia os louros”, acompanhado pelo Manuel Couto e pelo José Teixeira. “O projeto era trabalhar em dimensão de Encontros” pois, “com os jovens – eram os jovens a prioridade do seu trabalho, – aprenderam a sonhar e sonhavam com Encontros, esse Movimento de Igreja que com o Luís e outros jovens ia crescendo, a partir do carnaval de 67″.

A vida pedia sempre mais: “os dias eles os passavam trabalhando, as noites sonhando. Será possível continuar a vida que começamos e partilhar mais, tudo, sempre? Será possível viver plenamente aquilo que em Encontros anunciamos? Será possível hoje uma comunidade como aquela dos Atos dos Apóstolos?”
A Comunidade nascia no ambiente dos Encontros, voltada para a juventude, na itinerância e na dinâmica do provisório, dentro de um país em guerra, para encarnar o ideal da comunidade dos Atos e concretizar a mensagem anunciada nos Encontros.

A guerra forçou mais ainda a itinerância e o provisório. Vieram o Brasil e Portugal, fazer parte da nossa estrada, onde propriamente a Comunidade se fez realidade. A Comunidade foi mista e, ao mesmo tempo, aceitava jovens, religiosas, padres, para trabalhar e viver nela temporariamente. “Um sonhou a Comunidade. Dois aperfeiçoamos o sonho. Três a realizamos e afirmamos. Era tempo de crescermos. Muitos nos visitavam. Alguns conosco conviviam. Uns poucos ficaram para provisoriamente partilhar a vida. Com todos fomos crescendo. Os fracassos nos deram lições”. Dos que participaram da Comunidade, dos primeiros anos até ao final de 81, permaneceu o Pe. Luís Carlos. Neste tempo já tinha surgido a idéia da Comunidade Feminina. Também já tinha sido redigido o fundamental das nossas Normas.

Março de 1982

Em Março de 1982, há um re-início da Comunidade, poderemos chamar de re-fundação da Comunidade, depois de uma ruptura, entre os membros existentes. Em 22 de Abril de 1984, “Dia da Ressurreição do Senhor Jesus”, D. Aloísio Lorscheider, em Fortaleza, aprovou as nossas Normas, como Sociedade de Vida Apostólica, de direito diocesano, “para que os membros desta Sociedade tenham o seu devido quadro de referência de vida”, fazendo votos que a Comunidade “cresça no seu ideal, de modo particular no atendimento e orientação dos jovens, tão necessitados da presença da Igreja, para que, em Cristo, encontrem a plenitude do seu idealismo”. Reafirmamos a finalidade, os valores da estratégia, a pedagogia e a espiritualidade, concretizamos e criamos pontos da organização e da articulação das comunidades. Inserimos e demos realce ao carisma, definindo-nos pela matriz libertadora: “a Comunidade Shalom pretende ser uma pequena semente de libertação no meio do mundo”, “um movimento de ressurreição e transformação de toda a realidade onde esteja inserida”, entrando em “toda e qualquer realidade aonde seja chamada”, “sujando as mãos”, assumindo “a situação das pessoas, comunicando-lhes um sentido existencial novo, interpelando as categorias do pensar e as formas do agir, por um confronto com o Evangelho”.

Traços da História

A nossa história possui traços de identidade que constituem o nosso tesouro:

A Evangelização da Juventude, apresentando o Cristo vivo aos jovens, pois nascemos dentro do Movimento e como temos escrito “onde houver jovens aí está a parte mais querida da Comunidade”; o caminhar histórico, o estar em movimento, o querer ser itinerância, a dinâmica do provisório, vivendo na ação-reflexão-ação, procurando a atualização de conhecimentos e a inserção constantes, o sentido da História, o diálogo da fé com a realidade; o ser Encontro é também paradigmático, numa sociedade onde não há encontro de pessoas, o encontro realizador da identidade de cada pessoa, encontro consigo mesmo, com os outros, com Deus e com a natureza; o ser Shalom, com o sentido da paz, da justiça e da alegria que o povo esperou do Messias no A. T. e que Jesus realizou com sua Vida, como Reino de Deus, nos dando o sentido da transformação para a plenitude da Vida; a libertação, na perspectiva pessoal, cultural, social e estrutural, da sociedade como um todo, é nossa vocação; o ser Comunidade que vive, anuncia, celebra e testemunha, na solidariedade e na esperança, os novos céus e a nova terra.

Nos últimos anos, a Comunidade tem acentuado três direções: a evangelização da juventude, o crescimento humano e a espiritualidade.

Os nossos desafios

O primeiro de todos os desafios é o de vivermos como pessoas consagradas, amando o Senhor nosso Deus de todo o coração, de todo o entendimento, com todas as nossas forças, amando em Deus o próximo, fazendo de cada pessoa o nosso próximo, procurando o Reino, acima de tudo, com uma fecunda vida de oração e missão. O primeiro desafio é o sermos consagrados.

E, como ser “semente de libertação” neste mundo globalizado pós-moderno, que vive em função do lucro e do poder do dinheiro, produzindo pessoas esfrangalhadas e várias classes de excluídos?

A inculturação no mundo da juventude nos deixa pobres e nos coloca em atitude de descoberta e de encarnação.

Outro campo é o das vocações: precisamos dedicar mais atenção e favorecer o despertar de vocações.

A relação Comunidade – Família Shalom, com as suas várias formas de pertença, merece atenção, para desenvolver o específico de cada forma e ao mesmo tempo a comunhão.

A continuidade do processo para os jovens que se tornam adultos continua sendo outro desafio.

O voltar a Angola, ao nosso berço africano, vai enriquecer muito o nosso ser.

Processo permanente

A Comunidade está continuamente em fundação. Cada jovem que dela venha participar fará a sua fundação nesse momento, nessa época concreta, em sua pessoa, em comunhão com os outros. A Comunidade vive e faz-se nas pessoas que dela participam e que dela venham a participar. A mesma coisa acontece em relação ao Movimento. Não somos uma idéia. Somos vida. Somos acontecimento e acontecer.

Pe. José Luís, CSh

Padre Luís Carlos, Fundador da Comunidade Shalom

O padre Luís Carlos Contente Garcia de Castro, nasceu em 16 de janeiro de 1938, na cidade de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores, Portugal. Seus pais são José Martins de Castro e Emília Contente Garcia de Castro. Foi batizado em 15 de fevereiro de 1938, na paróquia de Nossa senhora da Conceição, Diocese de Angra; foi crismado em Moçâmedes, Angola, por D. Daniel Gomes Junqueira.

Sua mãe faleceu quando tinha 6 anos de idade e, na ausência do pai, foi criado por um tio.

Aos 12 anos emigrou para Angola. Desde logo começou a trabalhar para se manter e estudar.

O desejo de ser padre existia nele desde criança e, em 1958, entrou no seminário de Cristo Rei, em Nova Lisboa (Huambo), Angola.

Movimento Encontros de Jovens

O abandono em que se encontrava a juventude sempre lhe causou inquietação e desejo de fazer alguma coisa em seu favor. Depois de vários encontros em Luanda, Lobito, Moçâmedes, Nova Lisboa, durante as férias de 1966, em 12 de fevereiro de 1967, realizou um encontro de jovens, no salão paroquial da Sé de Nova Lisboa, considerado o início do Movimento Encontros de Jovens Shalom, que se espalhou rapidamente por várias cidades de Angola, sendo, com isso, o Luís Carlos nomeado Assistente Geral do Movimento.
No dia 6 de julho de 1968, foi ordenado sacerdote da Diocese de Sá da Bandeira.

Em 1972, com o crescimento do Movimento, começa a sonhar com alguns jovens o nascimento de uma comunidade que possa assessorar a Evangelização da juventude nas várias dioceses de Angola.

Em 1973, fez uma especialização em pastoral juvenil, pedagogia e dinâmica de grupos, em Madrid, onde conheceu e assumiu a educação libertadora.

Comunidade Shalom

Em 7 de dezembro de 1974, chegam ao Lobito e juntam-se ao padre Luís Carlos, o padre Manuel Couto e o diácono José Teixeira, ambos claretianos, para formarem Comunidade de missão junto à juventude. D. Américo, bispo de Nova Lisboa, ofereceu uma casa da Diocese, onde fizeram morada.

Em 1975, a Conferência Episcopal nomeia o padre Luís Carlos Assistente Nacional da Pastoral da Juventude de Angola e os Bispos comprometem-se a dar uma contribuição para o sustento da Comunidade.

No Brasil

Em 1 de agosto de 1975, devido à guerra civil, o padre Luís Carlos deixa Nova Lisboa, chegando ao Brasil, Rio de Janeiro, no dia 13, depois de uma viagem atribulada.
Na CNBB, no Rio de Janeiro, conheceu D. Aloísio Lorscheider, Arcebispo de Fortaleza e D. Paulo Ponte, Bispo de Itapipoca, que o convidou para trabalhar na sua Diocese.
Em 30 de março de 1976, fixou residência, em Fortaleza, na Rua Olavo Bilac, na capelania de S. Judas Tadeu. A Comunidade Shalom já tinha iniciado e desenvolveu um grande trabalho nas dioceses de Fortaleza e Itapipoca.

Em Portugal

Em 1978, O padre Luís Carlos foi para Portugal, para apoiar os jovens do Movimento que tinham vindo de Angola. E, em 16 de Março desse ano, iniciou a Comunidade em Riachos, na Diocese de Santarém, sendo acolhido na casa paroquial, pelo padre Américo.

Re-início em Fortaleza

Em 15 de Março de 1982, o padre Luís Carlos voltou a Fortaleza, depois de uma ruptura entre os membros da Comunidade. E foi um re-início.

Em 5 de junho de 1982, foi instituído pároco da recém-criada Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, Barra do Ceará, onde permaneceu por 10 anos.

Em 12 de janeiro de 1983, D. Aloísio reconheceu a Comunidade e nomeou o padre Luís Carlos seu Coordenador Geral.

Em 22 de Abril de 1984, D. Aloísio aprovou as Normas da Comunidade Shalom, como uma Sociedade de Vida Apostólica.

Em 15 de agosto de 1997, o padre Luís Carlos deu início à fundação da Comunidade Shalom Feminina.

O Padre Luís Carlos foi Coordenador Geral da Comunidade Shalom, até 16 de julho de 2002, quando, a seu pedido, foi eleito um novo Coordenador. Em 2011, Padre Luiz Carlos, viveu até na sua terra Natal, Ilha Terceira-Açores, onde desenvolveu trabalho pastoral, sobretudo como Pároco, depois de ter feito um curso de atualização na Universidade de Salamanca.

A convite do Coordenador Geral da Comunidade Shalom Pe. Domingos Cunha, regressou à Casa Mãe, em Fortaleza-Brasil.