Movimento Shalom
Compartilhamento
1. O QUE É?
O Movimento Encontros de Jovens Shalom – MEJSh – é uma forma de evangelização organizada e dinamizada por jovens que, evangelizados, dedicam-se à evangelização de outros jovens em ordem a proporcionar-lhes um crescimento a todos os níveis (humano-social-teológico) para que estes, conscientes da sua missão de cristãos e através de uma autêntica vivência do Evangelho, tornem-se animadores capazes de ser fermento em qualquer realidade para a transformar.
2. COMO E QUANDO SURGIU?
Anos 60. Em todo o mundo os jovens lutam por voz e vez, e buscam ansiosamente sentido para suas vidas, o que vem a explodir nos movimentos juvenis da década, como os hippies. E a Igreja, reunida no Concílio Vaticano II, atenta a essa realidade, delega aos jovens a missão de rejuvenescer-lhe o rosto.
Nessa mesma época, Angola, colônia portuguesa na África, luta por sua independência e, frente à oposição do governo colonial, a guerra tornou-se inevitável. Nesse contexto, falar de paz era perigoso.
Como resposta a tudo isso e sobretudo aos anseios dos jovens de Angola que queriam paz e ser Igreja sem deixar de ser jovens, surge o Movimento Shalom.
3. O QUE SIGNIFICA A PALAVRA “SHALOM”?
Shalom é uma palavra hebraica que não tem uma tradução exata, mas que quer dizer intacto, acabado, completo. É integridade e bem-estar; harmonia e unidade consigo mesmo, com a Natureza, com os homens e com Deus. Com esta palavra se deseja bênção, repouso, glória, riqueza, salvação, vida, felicidade, saúde, justiça e unidade. Podemos sintetizar a riqueza desta palavra em PAZ, que para nós cristãos tem um rosto humano: Jesus Cristo.
4. COMO É QUE FUNCIONA?
O processo de evangelização da Juventude do MEJSh realiza-se através de pequenos grupos (20 a 30 pessoas) inseridos nas Comunidades/Paróquias. Os grupos são espaços de educação e crescimento na fé, além de meios de trabalho em Igreja (sobretudo na evangelização de outros jovens) e na sociedade, assumindo os desafios de cada realidade, segundo as exigências e orientações pastorais da Diocese e da Comunidade/Paróquia.
5. ETAPAS DO PROCESSO
5.1. Pré-Encontro
A Finalidade do Pré-Encontro é criar uma consciência de grupo cristão, num ambiente de à vontade, amizade, respeito pela pessoa, confiança mútua, diálogo e partilha… despertando para a importância de um processo de Educação Permanente na Fé, que possibilite aos Jovens criarem uma consciência crítica e assumirem sua missão de apóstolos em sua realidade.
Essa fase inicial do processo se faz por etapas planejadas que proporcionam um crescimento equilibrado aos jovens:
Etapas do Pré-Encontro
a. Etapa de Motivação e Amizade onde se procura congregar as pessoas e despertar para a dimensão da amizade e da importância de uma caminhada em grupo. Objetiva tornar o grupo um espaço de à vontade que possibilite ao jovem sair de seu isolamento e encontrar-se com outros jovens que vivem a mesma realidade, têm os mesmos problemas e, sobretudo, falam a mesma linguagem…
b. Etapa sobre o Grupo onde se procura aprofundar mais a consciência de grupo refletindo sobre o que é um grupo, os vários tipos de grupo, a importância de se viver em grupo e suas exigências, o que é um grupo cristão, o que é um grupo de Comunidade/Paróquia, a importância da inserção nos trabalhos pastorais e da sintonia com os demais grupos da comunidade (Pastoral de Conjunto);
c. Etapa sobre a Realidade onde se reflete a situação da realidade em que os jovens vivem: sociedade, família, escola, trabalho; a situação dos jovens na sociedade e na Igreja, fazendo a ligação fé x vida – Igreja x mundo para que, conscientes de sua realidade, os jovens despertem para o compromisso social e sintam-se responsáveis pela transformação da sociedade à luz do Evangelho;
d. Etapa de Temas de Aprofundamento o grupo planeja e aprofunda temas de seu interesse; nesta etapa objetiva-se, principalmente, desenvolver nas pessoas a capacidade de preparar e animar reuniões bem como atividades diversas na comunidade, já num ritmo de mais autonomia;
e. Etapa de Relações Humanas onde se retoma a reflexão sobre a situação do grupo e se realiza o Curso de Relações Humanas – aprofundamento de um final de semana onde se reflete, através de dinâmicas participativas, sobre relacionamento interpessoal, diálogo, partilha, crescimento, etc…. Depois desse Curso haverá algumas reunião de aprofundamento do mesmo procurando fazer uma síntese da caminhada feita até então, fortalecendo o relacionamento no grupo e desenvolvendo a capacidade de organização e comunicação.
· O processo desenvolve-se de acordo com a realidade de cada grupo, tendo como tempo de referência, um ano a um ano e meio.
· Ao longo de cada fase vão se realizando pequenas atividades, de acordo com as necessidades da Comunidade/Paróquia e com a realidade do grupo (convívios, celebrações, campanhas,…).
5.2. Encontro Inicial
Objetivando oferecer elementos e condições para que os jovens possam aderir livre e conscientemente a Jesus Cristo e seu projeto é que se realiza o Encontro Inicial, encontro de dois dias e meio animado por jovens e para jovens, onde se pretende uma vivência e um aprofundamento dos temas essenciais da vida do cristão como: Visão Cristã do Mundo, Bíblia, Jesus Cristo, Igreja, Namoro, Sexualidade, Sacramentos, Missão dos Jovens no Mundo etc., e alguns sugeridos pelos próprios jovens, num ambiente de amizade, partilha e festa.
5.3. Pós-Encontro
O pós-encontro é uma etapa privilegiada de Aprofundamento da Fé e de Evangelização permanente da realidade. Para isso, após o Encontro Inicial, o grupo passa à fase de organização para o trabalho, elegendo sua equipe coordenadora e dividindo-se, com a ajuda e orientação do pároco, em pequenas Equipes de Ação, de acordo com as necessidades pastorais da comunidade/paróquia, cada uma delas com seu objetivo concreto, em ordem a um compromisso na realidade.
O pós-encontro desenvolve-se em duas grandes dimensões: Ação (trabalho apostólico e organização e preparação técnica para tal) e Reflexão (aprofundamento da fé… que inclui, reuniões, encontros, reencontros,…).
Nesta etapa se realizam, entre outros:
· Encontro de Espiritualidade: descoberta da espiritualidade como o jeito próprio dos jovens manifestarem seu “ser cristão”; as dimensões fundamentais da vivência da espiritualidade cristã (bíblica/litúrgica/comunitária/comprometida); a relação com Deus, com o Humano e com o mundo; a Oração encarnada na vida como uma das formas de expressão da espiritualidade, de encontro pessoal com Deus.
· Encontro de Vocação: objetiva ajudar o jovem a descobrir o sentido de sua vida e o seu lugar na Igreja e no Mundo; reflete-se sobre a vocação fundamental de toda pessoa, a vocação cristã e as diversas vocações da Igreja; pretende fornecer elementos para que o jovem amadureça sua opção vocacional e possa dar uma resposta consciente ao chamado de Cristo para o seguimento.
· Encontro de Oração: proporcionar um tempo de oração individual e de grupo na descoberta de um Deus pessoal através, sobretudo, da oração bíblica; técnicas de oração e de leitura/meditação da Palavra de Deus.
· Curso de Pedagogia Dinâmica: apresentação de dinâmicas e técnicas para serem usadas em reuniões, convívios, encontros, grupos, comunidades etc. Proporciona, sobretudo, a descoberta dos elementos pedagógicos da Educação Libertadora.
· Curso “O Animador de uma Comunidade Organizada” – CACO: interpelação sobre os vários tipos de liderança e sobre como ser um animador libertador.
· Curso de Educação Libertadora: como educar conscientizando através da tomada de consciência crítica, da opção libertadora, da ação transformadora e da avaliação crítica.
· Curso de Planejamento: descobrir, de uma maneira participativa como fazer um planejamento, tendo com base os conceitos de pessoa, sociedade e Igreja que estão presentes na realidade.
· Análise Educativa: aprofundar os modelos de educação existentes e as conseqüências de cada um na formação da consciência crítica e na construção da sociedade.
· Eneagrama: possibilitar aos jovens com mais caminhada e maturidade o auto-conhecimento a partir de uma tipologia dinâmica da personalidade de modo a fornecer pistas de crescimento individual e no relacionamento com os outros.
· Reencontros: aprofundamentos dos temas do Encontro Inicial e de outros conforme as exigências da realidade; já estão organizados: “Cristo, Nosso Irmão”, “Viver em Igreja”, “Evangelho na Vida”, “Sexualidade”, “Maria”, “Eucaristia”, “Ensino Social da Igreja”, “Espírito Santo” .
· Grande Encontro: encontro anual com duração de uma semana onde cada grupo acompanhado se faz representar por uma equipe que, junto com os outros jovens, reflete um tema atual, previamente escolhido pelos grupos participantes, que vá de encontro às suas necessidades; ambiente de estudo, convívio, troca de experiências, festa, criatividade e alegria.
O pós-encontro nunca termina, pois, à medida que se cresce, se vão descobrindo novas exigências, novos meios de crescimento e de trabalho,… e assim, de acordo com cada grupo, poderão surgir novas equipes que sejam espaço de reflexões mais específicas, de partilha mais madura e de trabalho com mais continuidade, que incida sobretudo na transformação da sociedade.
6. ASSESSORAMENTO
Comprometemo-nos a acompanhar todo este processo, na medida em que cada grupo necessitar e julgar oportuno, de maneira subsidiária, aos níveis Teológico, Pedagógico, Humano e Social.
Na fase de pré-encontro, proporcionamos um tipo de acompanhamento mais próximo e freqüente. Dado que a finalidade do Movimento Shalom é a evangelização dos jovens pelos próprios jovens, o pré-encontro é animado por jovens que já têm experiência em seus grupos e comunidades e que se colocam à disposição para acompanhar o processo de formação de novos grupos em outras realidades. Esses animadores constantemente se reúnem para trocar experiências e aprofundar os conteúdos e técnicas necessários para o trabalho que desenvolvem.
Cabe ao animador ajudar o grupo a crescer e ter autonomia para que seja capaz de fazer opções e caminhar por si após a fase de pré-encontro. Para tanto, inicialmente, o acompanhamento inclui a presença semanal nas reuniões de grupo (animando reuniões e ajudando a preparar outras) e animação do Curso de Relações Humanas,…
Na fase de pós-encontro, quando o grupo se organiza para caminhar por si mesmo, o nosso assessoramento se restringe mais a animação de Cursos e Encontros de Aprofundamento e ao acompanhamento das Equipes Coordenadoras.
7. PEDAGOGIA
Nossa maneira de trabalhar se baseia na Pedagogia da Educação Libertadora. Em todo o processo trabalhamos na base da Ação-Reflexão-Ação, procurando crescer através do que se faz e da reflexão sobre esse agir, gerando consciência crítica. Assim, desde as reuniões aos cursos e encontros, trabalhamos com as pessoas, partindo da realidade e iluminando-a com a Palavra de Deus para se fazerem opções concretas de ação, com técnicas que proporcionam a participação ativa de todos, sendo os próprios jovens os sujeitos de seu processo.
8. DIMENSÕES DA FORMAÇÃO INTEGRAL
“A evangelização dos jovens terá sucesso à medida que responda globalmente às necessidades e aspirações dos mesmos. Por isso, do ponto de vista pedagógico, é importante que o anúncio evangélico e a catequese não sejam realizados apenas de forma abstrata, mas dentro de um contexto vivencial e por meio de paciente e constante acompanhamento.” (Estudos CNBB, 44)
Pensando assim é que o processo do Movimento Shalom procura dar atenção às diversas dimensões da pessoa humana (conferir anexo):
a) Personalização/Integração: contempla o aspecto psico-afetivo do jovem, na afirmação de sua personalidade, no relacionamento familiar e na inserção no grupo e na sociedade;
b) Mística/Teologal: diz respeito à espiritualidade, à vivência e fundamentação da fé do jovem; trata-se do encontro pessoal com a pessoa e o projeto de Jesus Cristo, bem como da experiência de Deus; implica testemunho de vida e um anúncio explícito de Cristo, inserção e participação na comunidade eclesial (serviços e sacramentos);
c) Sócio/Política: compreende a fomentação de senso crítico e da capacidade do jovem analisar a sua realidade a partir dos critérios e valores do Reino de Deus; busca integrar fé x compromisso sóciopolítico; implica a participação consciente e responsável dos jovens nas diversas estruturas sociais em ordem à promoção do bem comum e à construção de uma sociedade humana, justa e fraterna através de uma ação transformadora no mundo;
d) Técnica: engloba os aspectos pedagógicos da coordenação e animação de grupos e trabalhos; a capacitação técnica e metodológica na Educação Libertadora, através da Pedagogia Dinâmica, proporcionando uma prática transformadora na realidade e uma maior eficácia na missão evangelizadora;
e) Recreativa ou Lúdica: abrange a dimensão lúdica do trabalho com os jovens; os jovens não devem deixar de ser jovens para ser Igreja, muito pelo contrário, é preciso investir nos valores da alegria, dinamismo, festa e criatividade próprios da juventude;
f) Ecológica: descoberta e valorização da Natureza como a grande Criação de Deus, da qual somos parte, e que foi dada ao ser humano como ato de amor e do ambiente próprio de cada realidade em que estão os jovens.
9. CONCLUSÃO
Esta proposta de processo de Evangelização da Juventude pretende ser apenas um referencial: na prática, cada grupo vai descobrindo e realizando seu processo próprio, de acordo com sua própria realidade que varia de Paróquia para Paróquia, pois cada grupo se engaja em sua própria paróquia (inserindo-se, aí, na pastoral de conjunto), e tem seu ritmo próprio de crescimento.
Por tudo isso, o processo é lento, pois não se pretende apenas juntar jovens, mas sim, fazer um processo, com continuidade capaz de ajudar os jovens a tomarem consciência de sua missão e assumirem seu papel de animadores cristãos na Igreja e no Mundo.
Todo o projeto procura, como finalidade última, ajudar a construir um HOMEM que tenha como protótipo Jesus Cristo, criado por Deus à sua imagem e semelhança, conscientizado, solidário e comprometido; uma SOCIEDADE onde todos seja iguais em direitos e deveres, não totalitária, pluralista e participativa no econômica-cultural-político-social; e uma IGREJA que vive da Palavra de Deus, comunidade que celebra, partilha, testemunha e anuncia (missionária) numa vivência profética (compromisso).